segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ainda o polémico incêndio de 2006 no Ramiscal


O blogue da Lírio vem dar o mote para que a ferida da mata do Ramiscal volte a sangrar.
Muito se tem discutido sobre a regeneração deste micro ecossistema.Muitos deles com inteira razão de ser,mas muitos mais meramente cientificos e teóricos.Não vou discutir este ultimo argumento porque não tenho formação na área, o que posso é afirmar,com base na sistemática visitação, no antes e no depois incêndio,que as teses das gentes locais tem toda a razão de ser,quando afirmam que as cinzas,altamente tóxicas,escorreram em enxurrada para o Rio do Ramiscal e mataram todo o património Truteiro do Rio.Defendem também que o desaparecimento do casal de águias-reais emigrou para outras paragens,não porque tivessem morrido em consequência do incêndio,mas sim por falta de alimento,essencialmente constituído por coelho bravo e perdiz  que terá desaparecido.Quando se lamenta a perda de grande parte do património arvoristico milenar, e eu sou testemunha do desaparecimento de uma grande mancha de giestal que servia de refugio a grande quantidade de gado.Por todas estas razões eu continuo a afirmar que o Ramiscal  está ferido de morte.

Noticias recentes dão conta do avistamento de uma águia,o que é um bom prenúncio,talvez atraída pela caça introduzida numa associativa localizada em cotas entre-medias e superiores.
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  A imprensa dava conta desta destruição em 11 de Agosto de 2006 desta forma;

Parque da Peneda-Gerês está a arder há oito dias

por
Francisco Mangas 11 Agosto 2006
As chamas entraram há oito dias no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). E ainda não foram domadas. Consumiram já "quilómetros" de área protegida, mataram várias cabeças de gado, destruíram o reduto ecológico da última águia-real. Ontem, de súbito, abeiraram-se perigosamente de três aldeias e obrigaram a evacuação do Parque de Campismo de Travanca.
"Está tudo armadilhado", diz o comandante de bombeiros de Arcos de Valdevez. Ele e os seus homens - apoiados por elementos de outras corporações vindas do Sul e por uma centena de militares - passaram a noite a impedir o avanço das chamas no único parque nacional português.
A meio da tarde de ontem, só uma frente alastrava na encosta de Cabana Maior. De repente, o fogo irrompe em várias partes da serra. "Está tudo armadilhado", repete o comandante Mário Araújo, e não hesita em afirmar que estamos perante fogo posto.
As suas palavras faziam sentido. Pouco depois, o vice-presidente do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), João Alves, garantia ao DN que três indivíduos, residentes na área do parque tinham sido detidos pelas autoridades. Um deles confessou ter ateado as chamas.
Oito dias não foram suficientes para travar a ira do fogo. Continua a consumir mata e árvores no PNPG: em termos ambientais, há já pesadas perdas. A mata do Ramiscal, uma das áreas mais importantes do Parque pela sua biodiversidade, está transformada num manto de cinzas. O reduto da última águia-real, que vivia na área protegida, ardeu nos dois últimos dias. Ontem o incêndio nessa zona, habitat de plantas protegidas como o azevinho e o carvalho- -negral, ainda não estava extinto.
O presidente da Junta de Freguesia de Cabana Maior lamenta a destruição da reserva do Ramiscal: "Já ardeu quase toda." Em plena serra junto a uma frente de fogo, na Branda da Junqueira, Manuel Branco diz que o combate ao fogo tem sido insuficiente: "Tem sido e continua, hoje o fogo ameaça seis aldeias da minha freguesia."
Pelo ar, ontem, no combate às chamas havia apenas um helicóptero. Incapaz de responder a todas as solicitações. Só ao fim da tarde, quando uma das frentes ficou incontrolável ao ponto de obrigar à evacuação do Parque de Campismo de Travanca, surgiu por entre as colunas de fumo um avião Canadair.
Com parte substancial do parque a arder e as chamas quase a lamber a mata do Mezio, Manuel Branco estranhou a ausência de responsável do ICN no terreno. Uma crítica partilhada por responsáveis dos bombeiros.
"O fogo é como o lobo"
João Alves, vice- presidente do Instituto de Conservação da Natureza, reage com aspereza às críticas. "Não sou bombeiro. Lá poderia dar apoio, não combater as chamas." Para isso, diz, estão no terreno equipas do parque. O responsável do ICN assegura que o seu papel foi outro: "junto do Comando Operacional não me cansei de pedir mais meios". E aqui também não poupa críticas. "Penso que havia condições para colocar bombeiros no parque e até ontem (terça-feira) isso não foi feito."
A dimensão do fogo, na área ocidental do PNPG, no concelho de Arcos de Valdevez, justificou, no entanto, uma deslocação do vice-presidente do ICN ao local, onde chegou ao final da tarde de ontem.
Na altura, o volume da área ardida e o impacto na fauna e na flora da área protegida eram questões a que João Alves não sabia responder.
"O fogo é como o lobo", diz o antigo pastor António Lage, 79 anos. "Esconde-se na ramagem, mas de repente, sem ninguém contar, ataca destemido a rês - e leva-a." António Lage, na companhia de outros homens e mulheres, com enxadas, ramos e baldes, protegiam a sua aldeia (Bostelinho) de mais uma investida das chamas. Mas a noite aproximava-se, e o fogo, como os lobos antigos da serra da Peneda-Gerês, é persistente. Não dorme

Fonte,DN em 11 de Agosto de 2006
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Algumas fotografias de arquivo......
Fotografias ©João Dias