segunda-feira, 15 de junho de 2015

Rio Mouro continua a saque

À muito tempo que não escrevo sobre os rios Portugueses,não porque não me apeteça ou até por considerar que o tempo gasto que disponibilizo seja em vão,nada disso!sei que muita gente passa por cá e já me tem questionado se não vou continuar a partilhar a minha modesta opinião.

Hoje decidi falar-vos um pouco do Rio Mouro,que me marcou profundamente como pescador,pois foi o primeiro Rio que pesquei fora daquele que me viu nascer,o Rio Homem.

A minha experiência de pesca no rio Mouro reporta-se aos anos 80 quando ainda permanecia na incógnita das grandes massas dos pescadores e o seu nome apenas era conhecido por uma restrita franja de amantes deste desporto.

Era um rio fabuloso em termos de património truteiro,mas não só,uma quantidade significativa de Salmões procuravam estas águas para a desova.Já então,o Dr Pinho(famoso médico de Monção) lá pescava à pluma tendo criado pelo menos três troços privados(!)de rio,dois no Mouro e um no Sucrasto,seu afluente,este eleito por muitos Salmões e Trutas Marisca para a desova.

As infraestruturas rodoviárias de acesso ao seu vale não eram as que existem hoje,embora a as estradas camarárias permaneçam praticamente iguais em todo o vale;Merufe,Tangil,Riba de Mouro,Gave e por aí acima até à nascente em Lamas de Mouro,era sempre preciso longas horas para fazer cerca de 200 km.

Na década de 90,com a grande globalização,toda a gente começou a ter carro,subsidio de desemprego,regalias sociais e sobretudo muito tempo livre e grande parte dedicou-se à pesca das trutas em freguesias onde não existiam outros meios de emprego.

Com o turismo de natureza a crescer exponencialmente,sobretudo no planalto de Castro Laboreiro,uma parte substancial de jovens,e não só,dedicava-se à pesca das trutas que posteriormente vendiam   a  empresários  restauração para  aos famintos Galegos e a alguns Portugueses,inclusive guardas do PNPG,tal como presenciarei várias vezes em determinado restaurante em Castro Laboreiro.

A fama das trutas do Rio Mouro era tal nessa altura que diziam que quanto mais pequenas fossem melhor seriam em termos de sabor.

Aliás uma outra referencia gastronómica,o famoso presunto,se perderia para sempre em Castro Laboreiro com a aldrabice dos presuntos vindos do outro lado da fronteira e vendidos a peso do ouro como sendo produtos endógenos(mal sabiam que estavam a matar o sustento dezenas de famílias e o seu próprio negócio.

Toda a gente da região sabia disto e nada foi feito para parar esta atrocidade,levando o rio à praticamente esterilidade.

Deixei de lá pescar à cerca de 4 anos por considerar que visitar determinados lugares me provocavam nostalgia e até um certo mal estar espiritual.

Muitas foram as vezes que ponderei lá voltar,até porque queria ver se o Rio tinha dado sinais de recuperação,mas quando passava pelas redes sociais e via que o Mouro era a "a prostituta mais concorrida"desistia logo.

Na semana passada ganhei coragem e fiz-me à estrada.No meu Jipe levava todo o meu material inclusive algumas montagens novas que queria experimentar,e levada também um enorme desgosto por saber de ante mão que não iria ter grandes sucessos e regressaria frustrado,porque sabia que nos últimos dias  este troço superior do rio estava a ser consecutivamente  fustigado por pescadores da minhoca onde levariam tudo o que apanhavam.

Deixo aqui algumas fotografias de um troço que outrora foi um dos melhores que conheci em Portugal,mas que apesar dalguma recuperação está ainda muito aquém das suas potencialidades....