Esta promessa tinha sido feita pelo proprietário da quinta onde estávamos alojados,que nos disse á nossa chegada nos levaria a pescar este lago.
Seria-mos os primeiros a pescar-lo no ano pois ainda ninguém lá tinha posto a linha,aliás,ele permanece quase todo o ano congelado.
Chegar lá não seria fácil,parte o percurso seria feito de jipe e uma parte substancial teríamos que a fazer a pé de mochila às costas inclusive com todo o material de pesca, coisa que eu já estou habituado.
Depois de deixarmos o jipe serão mais ou menos 45 minutos de caminhada serra acima.
Do alto da serra a vista é deslumbrante,com o horizonte pintado de branco,pois apesar de estamos praticamente em Julho a neve permanecesse ainda nos picos serranos,e a temperatura matinal é ainda baixa.
Sendo um lugar remoto,este lago está apoiado por uma típica casa em madeira,com todas as comunidades,inclusive energia solar, lenha ,casa de banho e respectivo barco a remos.
A dimensão do lago é considerável,comparado aqui á lagoa cumprida na serra da Estrela,mas não é muito fundo e o seu leito é composto por pedra e densa vegetação aquática.
A mais duma hora se passara desde que chegamos e adrenalina está no máximo,não sabemos se nos viramos para a montagem do material de pesca ou se nos viramos a contemplar a beleza que nos rodeia!
Tudo pronto,canas,moscas esquisitas,grandes e sem nexo,que tínhamos montado no dia anterior,quase todas com o corpo avermelhado,porque sabíamos que existia lá um insecto especifico de alta montanha com essas características.
Os primeiros lances foram bem no meio do lago e logo o meu companheiro crava a primeira truta que não para de saltar fora da água,mas que depois de alguns minutos rompe sem mais parar rebentando o terminal!era uma boa truta,calculo entre 50 a 60 cm.
Teríamos que mudar de estratégia,montar terminais 0,18 mm para obter resultados,elas eram muito bravas e cheias de energia.
Assim passamos cerca de 3 horas sem que nada subisse,mesmo eu já tendo mudado para o strimer.
O almoço fica na memoria,um tradicional salpicão de Alce um belíssimo queijo acompanhado dum chá de ervas locais.....delicia.
Enquanto almoçávamos,estávamos atentos ao que se passava no lago,e não muito longe havia umas trutas enorme a comer à superfície.
Regressamos ao lago no maior dos silêncios, com a trutas a continuarem a comer e a estratégia passava por surpreende-las pelo lado onde não fossemos vistos.
Tocou-me a mim o primeiro lance com a tal imitação rude e grande! Não se fizeram de rogadas, logo uma delas atacou com vontade!muita luta e muita linha fora do carreto até que lá se foi, partindo o terminal 0,145mm...mais uma derrota do pescador e uma vitória do peixe, aliás como quase sempre.
Continuamos a bater as margens minuciosamente onde de vez em quando lá se via uma barbatana de fora.
Assim passamos cerca de 2 horas sem que nada se passa-se não ser uma enorme eclosão de pequenos tricopteros,que em vez de voarem, corriam em cima da água a grande velocidade e em todas as direcções,mas as trutas não lhes ligavam nada à superfície,provavelmente estariam a come-los em estado de submiago .
Durante este espectáculo tínhamos-nos apercebido de algumas trutas enormes a patrulhar a margem e a comer subtilmente numa zona de forte vegetação, mas não sabíamos muito bem o quê!escaravelho(vermelhos nesta zona)dipteros,pequenos tricopteros,subimagos emergentes?o que quer que fosse era muito pequeno e não perceptível!
Estaria-mos a cerca de 20m ,tudo teria que ser feito no maior silencio e subtileza pois qualquer movimento brusco seriamos detectados.O Soares decide-se por uma efémera #18 montada de parachute.
Os primeiros lançamentos em nada resultaram, e a truta continuava a comer, num movimento ondulante deixando á vista a sua enorme barbatana dorsal, sinal inequívoco que estava a comer emergentes.Não demorou muito até que num deles a ataque surgiu.
Tinha começado a luta.O Soares tinha montado um terminal 0,12 e as esperanças de meter esta truta na sacadeira eram muito escassas.
Não me lembro muito bem quanto tempo lutamos com a truta mas foi seguramente mais de 20 minutos, sempre com a ajuda preciosa do nosso "barqueiro"que sempre punha o barco de forma a que não forçar a truta.
a truta esta nas minhas mãos,mas foi pescada pelo Soares
Finalmente as trutas tinham começado a comer à superfície por todo o lado.
Mais uma vez avistamos 2 enormes exemplares com a barbatana de fora.Tocou-me a mim tenta-las.Havia que colocar a mosca com subtileza e a longa distancia.
Os primeiros lançamentos tive logo 2 rejeições,levando-me a adrenalina ao máximo.O desafio passaria mais por acertar no tamanho da imitação e no modelo.
Depois de experimentar efémeras troquei para um pequeno tricóptero #18 sempre com o olho nas trutas que continuavam a comer.
Lá saíram os lançamentos e claro está que uma delas não resistiu ao tricopero,mas mais uma vez a minha aselhice acabou com truta a rebentar tudo.Não era dia para mim!
O dia ia já longo,seriam 20h,pescávamos seguramente à 10h e o sol estava ainda bem alto,teríamos pelo menos mais 4 horas de pesca,e as trutas comiam por todo o lado.Havia eclusões maciças de formigas vermelhas de todos os tamanhos,tricopteros efémeras,era só escolher e lançar.Não era preciso longos lançamentos pois elas comiam mesmo ao nosso lado
Desta vez éramos nós que escolhia-mos as trutas que queríamos capturar!
De entre várias acima dos 40 cm tive ainda oportunidade de pescar os míticos Salvelinos(char) ou truta do Árctico.
Por volta das 22.30h o cansaço era por demais evidente,sobretudo no nosso barqueiro que apenas se limitava a remar e tirar algumas fotografias,contudo as trutas continuavam o frenesim,com insectos por todo o lado,entretanto as temperaturas caíam abruptamente e em poucas horas desceram próximo dos 3º.
Era hora de regressar!
O regresso foi feito novamente de mochila às costas mas em vez de descermos no jipe optamos por faz os cerca de 8 km a pé para o espanto do nosso anfitrião, que ficou surpreendido por ainda termos força para fazer esta caminhada.
Um dia memorável....e o desejo de lá voltar um dia.
© Fotografias e texto;João Dias